domingo, 25 de abril de 2010

Roberto Piva, por Cláudio Willer

Capa de Paranóia, de Roberto Piva

O poeta Claúdio Willer informa por emal que, no dia 27, terça-feira, apresenta-se no programa Sempre um Papo a convite de Afonso Borges e do SESC - Vila Mariana, falando sobre Roberto Piva, precedido por depoimentos de Antonio Fernando de Franceschi, Celso de Alencar, Roberto Bicelli, Toninho Mendes, Ugo Giorgetti e Valesca Dios.

A seguir, dados e transcrição do release da manifestação.
Data e horário: 27 de abril de 2010, terça-feira, às 20h
Local: SESC Vila Mariana (Rua Pelotas 141 - Vila Mariana)
Tel.: (11) 5080-3000 /
www.sescsp.org.br
Auditório (131 lugares) Entrada gratuita
Informações para a imprensa: (31) 3261-1501 –
imprensa@sempreumpapo.com.br Coordenadora de comunicação - Jozane Faleiro: (31) 9204.6367

O poeta Roberto Piva tem sido noticiado, ultimamente, por dois motivos. Um deles, a repercussão da terceira edição de Paranóia, seu livro de estréia, pelo Instituto Moreira Salles. Outro, os problemas que enfrenta: depois de ser internado com um quadro clínico grave, passa por dificuldades. Por isso, leitores e amigos de Piva têm promovido coletas de recursos em seu favor. O Sempre Um Papo associa-se a essa mobilização com uma sessão dedicada ao exame de sua obra. Para tanto, recebe o poeta Claudio Willer (autor do posfácio do primeiro volume da Obra Reunida), que doará seu cachê. O evento contará com depoimentos de Antonio Fernando de Franceschi (poeta, responsável pela reedição de Paranóia em 2000); Celso de Alencar (poeta e amigo de Piva); Roberto Bicelli (poeta e amigo de Piva); Toninho Mendes (artista gráfico e poeta, publicou Piva na revista Chiclete com Banana); Ugo Giorgetti (cineasta, autor do média-metragem Uma outra cidade de 2000, com Piva e outros poetas da mesma geração); Valesca Dios (cineasta, diretora de Assombração Urbana, média-metragem com Roberto Piva, de 2005).

No encontro, Claudio Willer falará sobre “Roberto Piva e a Poesia”. Argumentará que a poesia de Piva é sobre a própria poesia; é um poeta culto, um leitor que, por vezes de modo sutil, comenta suas leituras e sua paixão pela vida e pela poesia (que, em sua poética, se confundem)

Roberto Piva (São Paulo, 1937) publicou Paranóia (Massao Ohno, 1963, reeditado em 2000 e em 2009 pelo Instituto Moreira Salles), Piazzas (1964, reeditado em 1979), Abra os olhos e diga AH! (1976), Coxas (1979), 20 poemas com brócoli (1981), Quizumba (1983), Ciclones (1997) e Estranhos sinais de Saturno (2008), além de uma antologia poética em 2005 e manifestos. Todos esses títulos compõem sua Obra Reunida (editora Globo), organizada por Alcir Pécora, em três volumes: Um estrangeiro na legião (2005), posfácio de Claudio Willer, Mala na mão & asas pretas (2006), posfácio de Eliane Robert Moraes, e Estranhos Sinais de Saturno (2008), posfácio de Davi Arrigucci Jr. Em 2010, foi lançada uma coletânea de suas entrevistas, Encontros: Roberto Piva, pela editora Azougue. Teve, a partir de 2000, um crescimento de sua presença em antologias importantes, traduções e bibliografia crítica, incluindo teses e dissertações. Além de apresentar-se em leituras de poesia, coordenou oficinas e palestras intituladas “Encontros Órficos”. Tem filmografia, composta por um documentário de Tadeu Jungle, de 1988, Uma outra cidade de Ugo Giogetti (2000) e Assombração urbana de Valesca Dios (2005), exibidos pela TV Cultura, além de participação em outros vídeos e filmes.

Claudio Willer (São Paulo, 1940) é poeta, ensaísta e tradutor. Publicou Geração Beat (L&PM Pocket, coleção Encyclopaedia, 2009), Estranhas Experiências, poesia (Lamparina, 2004); Volta, narrativa (Iluminuras, terceira edição em 2004); Lautréamont - Os Cantos de Maldoror, Poesias e Cartas (Iluminuras, nova edição em 2008) e Uivo e outros poemas de Allen Ginsberg (L&PM, edição pocket em 2005, nova edição em 2010). Prepara-se para lançar Um obscuro encanto: gnosticismo e poesia, ensaio (Civilização Brasileira). Teve publicados, também, Poemas para leer en voz alta (Andrómeda, Costa Rica, 2007) e ensaios na coletânea Surrealismo (Perspectiva, 2008). É autor de outros livros de poesia – Anotações para um Apocalipse, Dias Circulares e Jardins da Provocação – e da coletânea Escritos de Antonin Artaud, esgotados. Doutor em Letras na USP, faz pós-doutorado sobre Religiões Estranhas, Hermetismo e Poesia. Coordena oficinas literárias; ministra cursos e palestras sobre poesia e criação literária. Prepara um livro sobre surrealismo e ensaios sobre misticismo e poesia.

O poeta Cláudio Willer

Os signos e o contexto


1. Duchamp e o urinol no museu. Isso é arte.

2. Graffiti no túnel em São Paulo. Isso pode ser arte.

3. Aquele antigo ferro de passar roupas enfeitando uma mesinha de centro. Isso é kitsch.

4. Portão de oficina grafitado, comprado por R$ 1.000, 00 e revendido numa galeria por R$ 10.000,00. Isso é comércio.

5. Ânfora grega do século IV a.C. no museu. Isso é arte?

6. Graffiti no museu. Isso é arte?

7. Se as respostas para os itens 5 e 6 forem as mesmas, os motivos também coincidem?
Tentativas de resposta numa próxima postagem.


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sobre uma fotografia antiga de Brasília: o xis da questão



A fotografia de Mário Fontenelle que abre esta postagem talvez seja uma das mais conhecidas dos primeiros tempos de Brasília. É o registro do encontro entre o Eixo Monumental e o Eixo Rodoviário, o ponto zero de uma cidade que, naquele momento, não passava de um sonho.

Fontenelle – autor de flagrantes antológicos sobre o período de construção da nova capital - passava de avião por ali e pediu ao piloto para que voltasse, pois não queria perder aquela imagem. O registro é precário, um tanto desfocado, e não havia como ser diferente naquelas circunstâncias, mas isso que poderia ser encarado como um “defeito” de certo modo contribuiu para acentuar-lhe o ar mítico, como se a precariedade fotográfica se casasse com a dos barracões de madeira que abrigavam os operários dos novos tempos.

Usualmente, a foto é lida como uma cruz, ou uma marca, um “X” a apontar para algo único, seminal. Uma tomada de posse (para resgatar uma expressão do antropólogo Milton Guran, transcrita na edição especial da revista Veja – Brasília 50 anos). O que se ressalta é o que há de inaugural ali, a explosão da modernidade a traçar um destino. É como se a história de todo um rincão brasileiro começasse com a construção da nova cidade.

Mas será isso verdade? Haveria apenas uma natureza intocada antes (o cerrado) e uma história que começava naquele momento preciso? Não havia nada de histórico nesse pedaço do Brasil antes da chegada de arquitetos, engenheiros, peões? Brasília teria se erguido sobre uma natureza virgem, haveria aqui “apenas” árvores e mato a arrasar? O que mais foi derrubado?

Esse “X” que é um ponto de amarração não seria, assim, a despeito da intenção de Fontenelle, também uma marca de obnubilamento, de censura, um inconsciente registro de exclusão? Uma cicatriz mesmo? É possível um traçado inagural que não apague algo, que não represente um corte?

Não seriam os traçados dos Eixos também riscos sobre o que ficou para trás, vaqueiros perdidos, posseiros, índios nômades que podem ter cruzado a terra vermelha em algum momento, talvez pouco antes, do registro fotográfico?

O que poderia revelar uma arqueologia não só dos solos da capital, mas do imaginário que se criou em torno dela?

Fonte: Arquivo Público DF